domingo, 19 de maio de 2013

Pra começar a colorir

Le droit à la ville ou O direito à cidade é um livro, um conceito, uma visão que nos guia para um novo caminho. Henri Lefebvre, filósofo francês, foi o cara que deu vida a este conceito, publicando suas ideias em 1968. Mas não precisa ser filósofo, muito menos francês, pra entender do que se trata.

filosofando ou paquerando? eis a questão!

Nosso pernambucano arretado - Chico Science - e sua nação Zumbi, na década de 90, resumiram tudo em quatro versos muito simples:

A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o debaixo desce



A cidade não para de crescer: atualmente, cerca de 80% da população brasileira vive nas cidades; segundo projeções da ONU, daqui pra 2050 esse número deve aumentar pra um pouquinho mais que 90%. E daí? E daí que é simples: sabe carnaval de Caicó? Ou carnaval de Olinda? A cidade fica tão cheia de gente que todo mundo fica naquele medo de faltar água. Num é fácil de entender? Quanto mais gente morando nas cidades, mais vamos precisar de recursos e infra-estrutura adequadas.

E esse negócio do de cima sobe e o debaixo desce, é o que, menina? Brincadeira do morto-vivo? É não, muié! E quem explica dessa vez são AS MENINAS: o rico cada vez fica mais rico / e o pobre cada vez fica mais pobre.

bomxibomxibombombom

A cidade, o lugar do sonhos, para onde muitos migram e continuarão migrando em busca de melhores condições de vida, é - em sua maioria - um soco no estômago, um golpe de realidade dura e cruel. Por não estar preparada para esse fluxo tão grande de pessoas que a desejam, acaba servindo melhor àqueles que podem pagar mais. Quem não pode, se vira nas habitações inadequadas, nos hospitais sem leitos e no ônibus lotado (se tiver dinheiro para a condução). No entanto, quem tem bala na agulha também não está isento de frustrações: esses também sofrem com a falta de segurança, com o trânsito caótico, com o aumento da temperatura, com a falta de espaços públicos adequados de lazer, ciclovia... E, da mesma forma que a lei diz que "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante" (Constituição Federal), há também lei que afirma que temos "direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações" (Estatuto da Cidade). Deu pra entender? É direito de todos nós usufruir de uma cidade bacana :)

por trás dos luxuosos prédios de areia preta, natal/rn

Na condição de estudante de arquitetura e urbanismo, me dá uma agonia, sabe? Porque penso que as coisas têm solução. Sei que é difícil, que é um assunto sem fim, que vai nos levando cada vez mais fundo, passando por vontade política, sistema econômico e questões sociais intrigantes. Venho na intenção de compartilhar ideias, fomentar discussões, porque esse é um assunto que interessa a todos e, definitivamente, precisa ir além das quatro paredes da sala de aula.

Por aqui vai aparecer um bocado de coisa: mobilidade, megaeventos, habitação social, agricultura urbana, city marketing, participação social, estatuto da cidade, zonas de proteção ambiental, espaços públicos, infra-estrutura urbana, permacultura, patrimônio histórico...

E pra terminar, pra deixar claro que não permito entregar tudo ao pessimismo, fica aqui uma frase de outra pessoa que também deve nos inspirar nesse caminho:

"Because things are the way they are, things will not stay the way they are" (B. Brecht)


Namastê.